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16. Botões desalinhados

Star One finalizou a última apresentação deles em um show de música naquele dia. A montanha-russa de eventos que seguiram o lançamento do seu álbum estava quase acabando.

A agenda extremamente ocupada do Star One se acalmou, deixando apenas algumas entrevistas para serem feitas. Agora que o grupo concluiu a maioria de suas atividades na Coreia, era o momento para eles se prepararem para a sua turnê europeia.

Um dia, a caminho de uma entrevista, o grupo decidiu parar em uma loja de conveniência para pegar algumas guloseimas.

Soule tomou um gole de sua bebida esportiva depois de respirar profundamente o ar fresco. O som das folhas sussurrando na brisa fez cócegas em seus ouvidos.

Soule fez um côncavo com a mão e colocou em sua orelha. A mágica aprimorou todo o seu sistema sensorial, especialmente sua audição.

Ele conseguia escutar mesmo o menor som na distância se ele se concentrasse o suficiente para isso. Como resultado, Soule se assustava com frequência pelos menores sons como agora.

"Soule!" Taho, que apareceu do nada, gritou seu nome.

Soule deu um pulo e reclamou, "Uau, você me assustou. O que foi?"

"Por que você está tão surpreso?"

"Eu estava focado em algo. Só para caso alguém viesse e tentasse fazer algo com a gente."

Taho balançou sua cabeça e suspirou quando ele escutou a resposta do líder. Ele entendeu as preocupações do Soule.

Viken, que estava bisbilhotando a conversa deles do outro lado, se virou para o Eugene. "Certo. Afinal, já aconteceu algumas vezes. Deixa eu contar. Uma, duas, três vezes, quatro vezes…“

O grupo ficou em silêncio. Da manifestação repentina da mágica deles até os ataques inesperados, tudo aconteceu tão rápido, que esse momento raro de descanso parecia estranho. Os meninos se lembraram das estranhas figuras em capas brancas. Eles não podiam evitar se sentirem tensos mesmo quando não havia nenhuma ameaça eminente.

Uma rajada de vento soprou novamente. Soule sentou-se em um banco do lado de fora da loja de conveniência e olhou para os outros membros.

"Pelo menos eles não estão aqui ainda," ele murmurou.

Viken esticou suas pernas. "Você está falando dos homens com capas brancas?"

Suas juntas estralaram enquanto ele falava talvez porque eles estavam sentados no carro por horas. "Quando você acha que eles vão vir?"

"Quando eles quiserem, provavelmente,” Eugene deu de ombros.

Viken suspirou. "Eu queria que soubéssemos quando eles estarão aqui,” ele disse, "Para que nós pudéssemos estar preparados."

Um breve silêncio seguiu.

Era hora de alguém se manifestar. Soule olhou para os outros membros de novo. “Por falar nisso, vocês lembram o que o DK disse? Que nós devíamos dar pausas entre as apresentações? O que vocês acham?"

DK e o diretor do departamento de planejamento da UVIC chamaram o Star One para uma reunião a alguns dias atrás.

Ao contrário do ditado popular que se deve bater em ferro enquanto estiver quente, DK e o diretor sugeriram que eles descansassem antes da turnê europeia. Embora os funcionários estivessem cientes que o Star One fariam recordes se eles lançassem um novo álbum imediatamente, eles decidiram por fim não o fazer em razão dos ataques.

Era muito arriscado continuar expondo o grupo a grandes multidões.

Talvez esse era o dilema que de repente fez com que a brisa parecesse sufocante.

"Eu não quero descansar," Eugene respondeu na hora.

"Eu quero." Taho acenou com a cabeça, discordando com o Eugene. "Afinal, nós nunca sabemos quando eles podem nos atacar novamente. Nós precisamos ser cuidadosos até sabermos quais são as motivações deles."

Viken e Avys também deram suas opiniões.

"Eu estou com o Eugene," Viken disse. "Eu acho que nós podemos ir com calma. Eu tenho estado bem exausto ultimamente."

"Biscoitos de nozes, por favor!" "Lula desidratada!" "Eu vou querer um cachorro-quente de palito"

Soule olhou para o Eugene logo que os outros três terminaram de fazer seus pedidos. Eugene se levantou um pouco relutante e começou a andar. Alguns dos guarda costas deles os seguiram.

Depois de comprar um pacote de biscoitos de nozes, os dois membros sentaram-se em um banco e encararam a distância em silêncio.

Soule pegou um biscoito de nozes e deu para o Eugene antes de quebrar o silêncio.

"Ei, Eugene."

"O que é?"

"Não fique tão chateado. O período de descanso não vai ser longo."

Eugene suspirou e disse, "Eu sei. Não estou chateado com a decisão."

Eugene ficou mais irritadiço depois do ataque mais recente. Ele se assustava com coisas pequenas e raramente tinha um sorriso no rosto.

Depois de encarar Eugene por um momento, Soule disse, "Me dá a sua mão."

"O que?" Eugene arregalou os olhos, confuso pelo pedido repentino.

"Só me dá a sua mão."

Soule colocou um dado cor de menta na mão do Eugene quando a estendeu.

"Pra que é isso?"

"Te ajuda a ficar melhor quando você o segura."

Eugene rolou o dado em sua palma. Ele se sentiu exatamente o mesmo.

"Como isso iria me ajudar a me sentir melhor?"

"Não sente ele quente?"

Eugene rolou o dado em sua palma de novo. Talvez só um pouco.

"Eu uso muito ele. Vou deixar você ficar com ele por cinco minutos."

"Bem, não é ruim. Mas qual é o lance com o dado?"

"Eu não sei," Soule respondeu sinceramente. Como alguém descreveria um dado?

"Me salvou nos meus sonhos e até apareceu na vida real. Eu perdi uma vez, mas voltou pra mim."

Eugene virou sua cabeça e perguntou desconfiado, “Não é amaldiçoado, né?"

"Não. Eu te disse, me salvou. É mais uma benção que uma maldição, eu diria."

"Então, esse é o seu talismã?"

"Hum, claro. Acho que sim. De qualquer forma, eu só me sinto tão melhor quando e seguro ele. Tenta Eugene. Vai, dá uma chance."

E então, Eugene segurou o dado firmemente. Soule estava certo. Eugene sentiu como se as bordas do seu coração estivessem se aquecendo.

"Então, o que você acha?"

"É ok."

No vocabulário do Eugene "ok" significava "muito bom." Soule sorriu.

"Fico feliz que você gostou. Você tem estado abatido ultimamente."

Eugene coçou a cabeça depois suspirou. Soule estava certo. Ele estava se sentindo abatido.

"Está tudo bem?" Soule perguntou.

Eugene rolou o dado em sua mão. O calor gentilmente passou por ele e tocou seu coração. Ele sentiu um formigamento estranho.

Ainda segurando o dado, Eugene colocou sua mão na sua bochecha. A energia quente continuou a fluir por ele. Mesmo que fosse só um dado, ele sentiu como se uma pena macia fizesse cócegas em seu rosto. Ele não pode evitar de rir desse pensamento.

Talvez tenha sido isso que fez com que ele se abrisse.

"Sabe, Soule."

"Sim?"

"Eu sinto como se tivesse feito algo de errado. Você sabe aquela sensação de quando você abotoa um botão da sua camisa na casa errada, e a camisa inteira fica desalinhada?"

Seus olhos tremeram. Soule esperou Eugene falar novamente.

"Eu sei que quando você faz algo de errado, você deve tentar consertar. Mas eu sinto como se eu tivesse cometido um erro que não pode ser desfeito."

Eugene começou a respirar pesadamente. "E isso me assusta."

Ele parecia muito ansioso. Soule conteve a vontade de perguntar o que estava acontecendo.

Ele queria esperar até que Eugene estivesse pronto para falar disso. E então, ele gentilmente colocou sua mão no ombro do Eugene. "Eu não sei exatamente o que você está passando, mas eu espero que você saiba que não está sozinho."

Ele então segurou a mão do Eugene em que o dado estava.

"Se você colocar o primeiro botão na casa errada, você pode só desabotoar e tentar de novo."

"E se você não puder desfazer?"

"Eu vou tentar te ajudar com qualquer que seja a situação que você está passando. Eu tenho certeza de que nós conseguimos se trabalharmos juntos. Ah, por falar nisso, eu vou ter que dizer não antecipadamente."

Desnorteado, Eugene piscou algumas vezes. Soule deu de ombros. "Você sempre me protege. Eu quero retornar o favor."

"Do que você está falando? Você não consegue nem mirar com a sua flecha."

Os dois caíram na risada.

Finalmente, Eugene pareceu voltar a ser o seu eu normal.

"Não se preocupe, Eugene."

"Soule, eu me sinto estranho que nós mudamos tanto," Eugene murmurou enquanto ele encarava a distância.

Soule acenou a cabeça em simpatia.

Ele também sentia como se estivesse andando na corda bamba no meio de uma tempestade. Soule temia que os milagres, que chegaram de repente, fossem embora a qualquer momento. Para deixar tudo pior, os ataques contínuos faziam com que o futuro parecesse ainda mais incerto.

Eles olharam um para o outro de novo. Os dois podiam sentir a tensão sem ter que dizer nada. Eugene devolveu o dado para o Soule.

"Obrigada por isso. Eu me sinto melhor por alguma razão." Soule pegou o dado e segurou firmemente na sua mão.

"Eugene, posso te contar algo aleatório?"

"Eu estive pensando porquê esse calor parecia tão familiar."

Ele então pegou o pulso do Eugene. "Você parece normal pra mim."

Eugene encarou silenciosamente o Soule, parecendo surpreso.

Soule continuou, "Quando eu estava com dificuldades, me sentindo perdido, esse dado apareceu do nada. Então eu devo ter pedido para ele em minha fantasia para ser uma luz na minha vida."

Eugene riu. "Isso é algo grande para pedir para algo tão pequeno."

Soule acenou com a cabeça.

O que faz com que o dado seja tão especial, realmente?

Apareceu em um sonho e no lugar no estúdio de dança em que o fantasma estava. DK até o achou ele o perdeu em uma multidão de protestantes.

Parecia como se o dado sempre tivesse um jeito de voltar para o Soule. Ele suspeitava que era algo relacionado com a sua mágica, mas ele não tinha certeza.

Mas, por quê?

Talvez ele não precisasse se preocupar tanto com a razão.

Eu tenho a sensação de que vou descobrir logo.

Soule apertou seu bolso em que o dado estava.

Depois disso, Soule e Eugene caminharam com dificuldade de volta para onde os membros estavam com as mãos cheias de guloseimas.

Eles entregaram para os membros seus lanches e comeram nos bancos enquanto curtiam a vista da floresta diante deles.

Tinha um pequeno pássaro ao lado do Avys. Ele bicava os pedaços de lula desidratada que o Avys oferecia.

"O que você acha, passarinho?"

Os membros do Star One assistiam, curiosos para ver se a criatura invocada comeria a lula desidratada também. Para a surpresa deles, o pássaro cuspiu a lula e a pisoteou com suas patas.

Os meninos caíram na gargalhada.

"Hahaha!"

"Sério mesmo?!"

"Ele não gostou, Avys."

"Mas ele não precisava amaçar como os pés!"

Parecendo descontente, o pássaro balançou suas asas algumas vezes antes de voar pra longe. "Então, os pássaros que eu invoco não comem lula desidratada," Viken se lembrou enquanto olhava dentro do pacote do cachorro-quente de palito.

"Outros pássaros comem lula desidratada?"

"Não tenho certeza. Acho que normalmente não," Avys disse enquanto mastigava um pedaço de lula desidratada.

"Talvez não fizesse o gosto dele. Pássaros invocados comem outras coisas?" Soule perguntou enquanto abria sua nova bebida.

"Falando nisso," Viken comentou, "os animais invocados pelo Avys devem ser de um outro mundo, né?"

"Me pergunto o que eles comem. Como o outro mundo se parece?" Taho disse enquanto mordiscava um biscoito de nozes.

"Sim. Me pergunto quando eles vão voltar. Eu espero que eles voltem logo."

Os galhos das árvores balançaram com a brisa, e Soule escutou um pedaço de tecido batendo no vento.

Ele respirou profundamente várias vezes. Soule começou a focar em outros sons enquanto os membros continuavam no tópico.

Ele ainda conseguia ouvir a brisa em adição aos ocasionais barulhos de aceleração e buzinas de carros.

Só então, ele escutou a batida de novo.

O lembrou do som de um longo pedaço de tecido, como uma bandeira, batendo.

Soule olhou para trás rapidamente.

Ele conseguiu ver a borda de algum pano branco no canto dos seus olhos. Soule seguiu o tecido com os olhos até ver um grupo de pessoas usando capas brancas. Sua marcha era leve e silenciosa como se estivessem flutuando no ar.

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