24. O Desejo Dele
Os membros do Star One olharam um para o outro antes de balançarem vigorosamente suas cabeças.
"N-não! Você está enganado, nós não somos literalmente estrelas," um deles exclamou.
O homem sorriu pelas reações dramáticas deles. "Todos vocês são minhas estrelas," ele insistiu. "Vocês todos brilham."
Os membros se surpreenderam com o sorriso gentil dele.
Soule se forçou a manter a calma enquanto ele disse, "Nós somos pessoas bem normais."
"Não, vocês não são," o homem argumentou. "Vocês usam mágica, e até tem alguns amigos especiais ao seu lado." Ele apontou para o Wolpertinger.
"Weee!" O Wolpertinger soltou um barulhinho envergonhado como se soubesse que o homem estava falando dele. Soule não podia ajudar, mas abraçou o Wolpertinger adorável, que se esfregou em seu ombro e ronronou como resposta.
"Eu estou lisonjeado, mas nós estamos só começando…" Soule inclinou sua cabeça. "Por alguma razão, esses amigos tem nos seguido por aí desde de que encontramos eles pela primeira vez."
"Familiares são atraídos por pessoas com o coração puro," o homem explicou com um sorriso.
Estrelas brilhantes e corações puros... No momento em que Soule estava tentando pensar em uma resposta para as palavras tocantes do homem, ele escutou uma voz severa.
"Nós não somos tão inocentes. Nós passamos por muitas coisas." Os olhos afiados de Eugene brilharam enquanto ele falava.
"É isso mesmo." Viken, que estava ao seu lado, concordou. "Nós trilhamos um longo caminho."
O homem deu um sorrisinho. Ele acenou com a cabeça como se mostrasse que ele entendeu.
"De qualquer forma, eu não posso aceitar um presente tão valioso," Viken afirmou.
"Você não disse que ainda não está acostumado com mágica?" O homem perguntou. “Você não precisaria ainda mais do que eu?" Ele então sugeriu, "E que tal isso: nós fazemos um trato em que eu te dou um presente, e em troca você me faz um favor."
O homem olhou para Viken enquanto ele tocava em sua cabeça. Soule olhou para Viken e o homem. Eles se pareciam. Eles quase lembravam irmãos gêmeos. Era estranho que nenhum dos outros membros tinha notado isso.
"É um presente meu, então você não precisa se preocupar. Só aceite," o homem insistiu. "Eu não preciso mais mesmo."
O homem entregou o cajado para Viken com uma mão. A sua outra mão continuava na cabeça deste. Viken aceitou o cajado com as suas duas mãos.
"Lembre-se," o homem adicionou, "se alguém um dia te perguntar se você estava disposto a suportar as consequências em troca de um presente, você deve perguntar o que eles querem. Normalmente, os tratos são injustos."
"...!" Eugene recuou ao ouvir as suas palavras.
Seus dedos estralaram em seus punhos cerrados.
Ele ficou tenso ao se lembrar da última batalha.
Maldição.
A voz tenebrosa do gato com olhos estranhos ecoava em sua mente.
"Tem um preço a ser pago. Você está pronto para fazer um acordo?"
O que eu disse naquele momento? Eu disse que faria qualquer coisa?
Eugene não podia evitar se sentir inquieto. Ele conseguia lembra que sentiu como se algo estivesse errado. O homem encarou Eugene enquanto tirou sua mão da cabeça de Viken.
"Já faz tempo que eu não sentia tanto afeto," ele disse. "É um prazer conhecer todos vocês."
"Então, o que você quer da gente?" Eugene perguntou do nada.
Ele se sentia ansioso já que parecia muito tarde para perguntar agora, mas ele levou a sério o conselho - pergunte o que a outra pessoa quer em troca.
Com a pergunta dele, o homem suspirou gentilmente. A grama verde brilhava de baixo dos raios de sol.
"Eu quero que vocês escutem a minha história," ele afirmou.
O pedido do homem era extremamente simples. "Não vai demorar muito. Por favor escutem a minha história até eu terminar de contá-la."
"Mas isso é tão fácil..." Soule comentou hesitantemente.
"Pode não parecer muito para vocês," o homem explicou, "mas significa muito para mim. Afinal, eu estive sozinho aqui por milhares de anos. Eu vou deixar vocês voltarem de onde vieram assim que eu terminar a minha história."
Os membros se entreolharam e acenaram com a cabeça um para o outro. Eles olharam para o homem para mostrar que estavam prontos.
O homem sorriu e estendeu sua mão. Uma brisa gentil rodopiou na sua palma. A brisa suave emitia uma luz verde enquanto entrelaçava as mãos dos membros.
"O trato foi completado," o homem afirmou. "Estou aguardando ansiosamente os próximos dias."
"Ótimo!" Viken exclamou. "Afinal, o que você esteve fazendo aqui todo esse tempo? Você não tinha ninguém pra conversar. Nós não vimos nada além de neve e árvores no nosso caminho até aqui."
"Estive esperando por séculos," o homem respondeu. "Eu olhava para o céu sem estrelas e me perguntava quando viria o dia pelo qual anseio. Seria hoje? Ou seria amanhã?"
Ele continuou em voz baixa. "De qualquer forma, minha história é uma das longas. Devo começar?"
O homem encarou o horizonte. Seus olhos encheram-se de lágrimas de emoção como se ele estivesse enlutado pela perda de pessoas que amava.
O homem pegou emprestado o cajado de Viken e o girou facilmente. O brilho de uma luz se formou na ponta do cajado, e ficou maior e maior até que virou uma esfera. Algo se formou dentro da esfera e mostrou uma imagem. Era a imagem de um descampado com um buraco negro no meio. O buraco completamente escuro parecia um abismo sem fim.
Naquele momento, múltiplos buracos negros apareceram. Eles se moviam em direção a criaturas que estavam por perto e as consumiam.
"Nós os chamávamos de o ‘Abismo Negro’," o homem explicou.
E então, a imagem desapareceu. O homem soltou um suspiro cansado. "Um dia, essas coisas começaram a aparecer no mundo. Eu não sei exatamente quando. Eu só tenho um chute que deve ter começado no fim do mundo."
"É algum tipo de doença contagiosa?" Taho perguntou.
O homem balançou a cabeça. "Não é. Ao invés de uma doença contagiosa, podia ser... mágica."
"Mágica..." Soule murmurou.
"Desde de sua manifestação," o homem continuou, "a mágica nos deu tudo. Nós criamos luz e trevas com ela. Maior parte das pessoas não envelheciam, provavelmente por causa disso. Foi quando o Abismo Negro apareceu."
Os membros estavam completamente imersos na estranha história do homem. Soava como um conto de fadas, ainda assim realista também.
"Por um longo período, nós reinávamos como deuses. Mas talvez seja por isso que as pessoas gradualmente perderam suas emoções." O homem cerrou seus punhos. Enquanto a sua voz permanecia calma, o trauma era evidente.
"Vai no seu tempo. Eu entendo que é uma história difícil de compartilhar." Viken reafirmou para o homem enquanto pegava suas mãos.
"Obrigado. Você é muito gentil." O homem sorriu. "A propósito, vocês mencionaram que vocês cantam, né?" "Sim. Nós também dançamos," Avys respondeu .
Em uma tentativa de melhorar o clima, ele dançou uma parte da nova música do Star One.
O homem aplaudiu a apresentação não voluntária de Avys. "Isso foi incrível. Na minha idade, o mundo já tinha perdido a dança. Já a música, eu escutava um pouco de vez em quando, graças a um amigo que tocava instrumentos. Talvez por causa disso, nós conseguimos manter alguns dos nossos sentimentos."
O homem lentamente fechou os seus olhos depois os abriu novamente. Ele abriu seus punhos e sussurrou, "O apocalipse..."
Uma brisa suave bagunçou o cabelo do homem. Apesar do homem estar de pé em uma floresta, Soule sentia como se ele ainda estivesse no meio de uma tempestade de neve.
"Nós queríamos evitar o apocalipse," o homem afirmou resumidamente. Apesar de sua voz ser gentil, perfurou profundamente o coração dos membros.
"Então, vocês querem ouví-la?" O homem perguntou. "A nossa história."
***
O homem sentou no topo de um pedra lisa pronto para contar sua história. O Star One formou um círculo e sentaram ao redor dele. A brisa passou por eles.
Soule passou seus dedos na grama. A atmosfera o deixava confortável. A grama nova parecia tão delicada quanto o homem parado diante dele.
Eles sentiram algo incerto sobre o homem de cabelo castanho que sorria fraco. Mesmo que o homem fosse claramente um pessoa forte, havia também um semblante de fragilidade nele que gerava simpatia. Soule bagunçou seu cabelo para se livrar desses pensamentos.
O homem continuou a sua história, "O Abismo Negro continuava expandindo, consumindo tudo - pessoas, árvores, animais, o que você imaginar."
Ele puxou as suas mangas para mostrar a ele seus braços cobertos de marcas cinzentas.
"Quem quer que o Abismo Negro alcance, para de sentir qualquer sensação ou dor. Quando todo o seu corpo é consumido, você perde todas as suas emoções e motivação. E humanos com mágica avançada podiam sobreviver sem comer, beber água, ou até dormir."
"Você pode fazer qualquer coisa com mágica," o homem murmurou. "Talvez seja por isso..." Uma brisa suava raspou na manga do homem e ele suspirou. "Algumas pessoas não resistiam ao Abismo Negro. Ou, para ser exato, eles não achavam ser necessário resistir."
Ele abaixou a sua cabeça. "Eles até argumentavam que nós estávamos destinados a enfrentar o final através do Abismo Negro. Que nós éramos tão perfeitos que não precisávamos fazer nada."
"Mesmo quando tudo estava morrendo?" Soule perguntou. "Mesmo que a espécie humana inteira - quero dizer, o mundo inteiro estivesse sendo aniquilado?"
"Sim," o homem respondeu. "Exatamente metade de nós pensava dessa forma. Essa pessoas estavam dispostas a aceitar essa realidade como destino. Eles também ficaram dessensibilizados sobre a morte. O que vocês todos acham? Vocês pensam que nós devíamos aceitar o apocalipse como destino?"
"Não," Soule respondeu enquanto balançava a cabeça. "Isso não parece certo."
"Eu concordo," Avys consentiu enquanto cerrava seus punhos. "É estranho aceitar isso como seu destino simplesmente assim."
Eugene disse sucintamente, "Aceitar o fato de que tudo desaparece? Eles não deviam se importar com nada nesse mundo."
O homem parecia satisfeito com as reações do Star One. Ele sorriu suavemente.
"É por isso que a outra metade da população era fortemente contra o apocalipse," o homem continuou. "Meu amigo e eu tentamos procurar uma solução. Nós não podíamos deixar que os nossos amigos fossem consumidos pelo Abismo Negro assim simplesmente."
Taho perguntou em um tom sério, "Como você derrotou o Abismo Negro? Qual era a causa por trás dele?"
O homem balançou a cabeça. "Nós não sabemos a causa ainda. Minha única hipótese é que a humanidade passou dos limites enquanto esforçavam-se para viver quase que eternamente. E... nós não o derrotamos ainda."
"O que você quer dizer?" Viken perguntou com confusão em sua voz. "Esse lugar parece perfeitamente bem. Eu não vejo nenhum traço do Abismo Negro em nenhum lugar."
"Não está inteiramente perdido", o homem respondeu enquanto ele girava o cajado. "Meus amigos e eu arriscamos nossas vidas para selá-lo."
Naquele momento, uma caixa de vime apareceu no ar e caiu no chão.
"Está aqui."
O Star One encarou a velha caixa de vime.

