25. As Caixas
"Está... está lá dentro?", Viken perguntou enquanto apontava para a caixa cautelosamente.
"Está na caixa no chão? Tudo bem deixá-la assim?"
"Está tudo bem", disse o homem enquanto ria. "Meu amigo que fez. Ela nunca quebra, e nem todos podem abri-la." Ele sorriu para Viken, que estava olhando para a caixa surrada com uma expressão confusa no rosto. "Eu coloquei um tabu nela."
Um tabu.
A palavra soou terrivelmente familiar para Soule. O dado da Seita do Dragão tinha um.
"Chocolate!" Soule exclamou. "Joguem todo o chocolate fora!"
"De jeito nenhum", Viken retrucou enquanto se virava para o homem. "Os grãos de cacau corroem essa caixa?", ele perguntou.
"Grãos de cacau?", o homem franziu as sobrancelhas enquanto balançava a cabeça. "Não estou falando de um tabu tão rudimentar. Despejamos nossas vidas nessa caixa. Um tabu tão fraco nunca poderia selar o Abismo Negro."
"É... bom saber", Soule coçou a cabeça quando ele se sentou novamente.
Ele parecia envergonhado com sua explosão.
"Eu tenho mais. Vocês querem dar uma olhada?" O homem sorriu para os meninos. Quando ele acenou com as mãos novamente, dezenas de caixas caíram no chão. "Também precisávamos considerar o que aconteceria depois que o Abismo Negro fosse aberto. Então, precisávamos colocar nas caixas o que a estrela precisaria para se recuperar assim que melhorarasse." Ele pegou uma das caixas. "Cada uma delas exigiu um tremendo sacrifício. Todos pagaram um preço para evitar o apocalipse."
"Que preço você pagou?", Taho perguntou ao homem.
"Nós desistimos das coisas pelas as quais mais prezávamos." O homem suspirou enquanto cerrava os punhos. "Um desistiu de seu talento, e outro desistiu de suas memórias. Alguém desistiu de sua capacidade de raciocinar e, eventualmente, de sua alma. Assim, uma caixa foi criada após a outra."
Ele então abaixou a cabeça enquanto continuava.
"Por fim, ao selar o Abismo Negro... meu amigo arriscou tudo o que tinha. Era um preço extremo, mas ele estava disposto a fazer isso, dizendo que era o único que podia."
O homem deu um beijo na caixa. O Star One observou silenciosamente enquanto ele prestava seus respeitos.
"..."
Seguiu-se um silêncio pesado. Ninguém se atreveu a dizer nada.
"Sinto muito por compartilhar uma história tão pesada." O homem se desculpou. "Eu não espero que vocês se relacionem com isso."
Soule se encolheu. Ele ficou tentado a dizer ao homem que não era o caso. Soule se perguntava se a história era realmente irrelevante para ele.
Os membros da Seita do Dragão chamaram seu grupo de "Garotos do Destino". Ele também se lembrou de seus comentários de passagem.
"É uma pena se vocês não quiserem. Mas se vocês não ajudarem na redenção do Dragão, todos enfrentarão o apocalipse."
Soule ainda não sabia o que eles queriam dizer. Além disso, a segurança dos membros era muito mais importante do que a redenção do Dragão e tudo mais. Foi por isso que eles vieram para o Pico do Dragão e como eles acabaram aqui a princípio.
Apocalipse. Inevitabilidade. Destino.
Tais idéias pareciam tão abstratas que ele evitou prestar atenção nelas.
Por essa razão, Soule teve que perguntar. Ele tinha que ouvir.
"Não", murmurou Soule. "Por favor, nos conte mais. Queremos ouvir suas histórias."
•••
O céu aqui não tinha estrelas.
O grupo fez uma pequena pausa antes de recomeçar com outra longa história.
Viken sentou-se na beira da rocha enquanto passava os dedos pelos cabelos aproveitando a brisa suave. Nesse momento, o Devouring Gourd, que estava em seu ombro, avançou e mordeu seu cabelo. Viken gentilmente coçou seu pescoço e disse, "Eu disse, não."
"Baaa!", o Devouring Gourd protestou.
Viken riu antes de soltar um suspiro.
"Por que você gosta tanto do meu cabelo?", ele perguntou exasperado. Sua voz tinha uma pitada de tristeza.
O Devouring Gourd balançou a cabeça e parecia estar tentando morder ainda mais o cabelo de Viken.
"Baaa, baaa!"
"Me pergunto de onde você tirou essa teimosia."
O Devouring Gourd olhou para baixo a fim de evitar os olhos de Viken. Apenas quando Viken estava prestes a repreendê-lo novamente, ele ouviu alguém falar com ele em uma voz profunda.
"Acho que é você."
Ele estendeu a mão para o Devouring Gourd, que cuidadosamente levou o queixo até a ponta dos seus dedos. O Devouring Gourd fechou os olhos contente enquanto o homem coçava o queixo.
"Por que você ainda não está dormindo, Viken?", o homem perguntou. "Você deve estar cansado."
"Eu não sei", respondeu Viken. "Eu simplesmente não consegui dormir."
O homem riu. "É mesmo?"
"Sim", respondeu Viken. "Na verdade, eu queria ouvir mais da sua história..."
Soule havia pedido a ele mais cedo para continuar contando a história. Assim que o homem estava prestes a falar, Avys bocejou. Avys tentou disfarçar, só para contorcer o rosto de uma maneira tão absurda que todos não puderam deixar de rir.
Ele deve estar exausto de lidar com as criaturas invocadas. O homem deu a Avys um olhar caloroso antes de sugerir que o grupo fizesse uma pausa antes de continuar.
Assim que ele acenou com a mão no ar, uma cabine apareceu do nada. O grupo se deitou nas camas de madeira lá dentro.
O homem conversou com os meninos alguns momentos depois. "Todo mundo está gostando do intervalo?"
"Sim", respondeu Viken. "Tirando o fato de que Avys estava pegando pedaços de madeira e juntando-os com os olhos meio fechados há um tempo atrás. Soule o forçou a tirar uma soneca."
"Entendo", respondeu o homem.
"Todos, inclusive eu, estão se sentindo um pouco atordoados desde que chegamos aqui", disse Viken. "É estranho."
O homem permaneceu em silêncio. Os membros tiveram problemas para adormecer, talvez porque tivessem muitas coisas em mente. Viken nem tinha adormecido. Ele olhou para o homem, que era a razão pela qual ele estava pensativo.
"Senhor, você se lembra do que nos contou sobre o apocalipse?", Viken perguntou. "Isso é realmente algo que precisamos pensar também."
"Você não estava com medo?", Viken perguntou a ele cautelosamente. "É muito para processar: uma série de eventos inesperados, o apocalipse e todas essas coisas."
"Eu estava com medo", admitiu o homem. Ele apontou para o céu escuro e sem estrelas e disse: "Na verdade, ainda estou com medo. É difícil porque não há uma saída."
Ele deu um leve sorriso. "Não fomos corajosos e determinados como os heróis nos livros. Éramos pessoas comuns, apenas amigos." Ele então olhou nos olhos de Viken e sussurrou, "Sempre há um caminho, mesmo quando parece que não há. Pelo menos você não está sozinho."
As palavras do homem pesaram no coração de Viken por algum motivo.
O homem deu de ombros. "Toda grande missão começa com você se decidindo."
"Isso é verdade", respondeu Viken, "mas..."
"Mas o quê?"
Viken hesitou por um momento.
"Eu nunca disse isso a ninguém", Viken sussurrou com a cabeça baixa. "Mas eu sinto que minha magia é fraca."
Seus sentimentos pesados fizeram um forte contraste com sua voz alegre. Mesmo assim, o homem continuou a ouvi-lo atentamente.
"A magia de todos parece estar melhorando rapidamente", continuou Viken. "Eles são lutadores muito bons também. Por exemplo, Eugene sempre foi atlético com reflexos excelentes. Por outro lado, meu ultra-raio é inútil em batalhas. Tudo o que consigo é fazer uma pomada com ervas medicinais. Não sou muito útil."
Viken levantou sua cabeça e agarrou o homem pelo braço. Seus olhos brilhantes estavam cheios de desespero. "Você acha que eu posso me tornar um grande mago como você?", Viken perguntou ao homem. "Eu quero ser mais útil. Não quero me sentir tão impotente quanto me sinto agora."
O homem, que estava sorrindo para Viken, respirou fundo antes de lhe mostrar a palma da mão. Um corpo de luz verde formou uma esfera em sua mão. Ele dirigiu a luz para Viken. Ela tentou penetrar no coração de Viken, apenas para ricochetear e desaparecer.
"Ah, não funcionou", o homem franziu a testa.
"O que você estava tentando fazer?", Viken perguntou.
"Acho que isso também foi bloqueado pela causalidade", afirmou o homem. "Eu queria te dar força para melhorar sua magia fundamental mais rápido, mas parece que não funcionou."
Viken estalou os lábios em decepção.
"Acho que nos resta apenas uma opção", disse o homem.
"Hã? O que é?", Viken engoliu em seco, seus olhos brilhando novamente com expectativa.
O homem sorriu. "Trabalho duro?"
"Oh, qual é!", Viken fez beicinho. "Eu pensei que era algo especial."
A reação de Viken fez o homem rir.
"Como eu disse anteriormente, você pode ficar mais forte quando está com pessoas de quem gosta", explicou. "Você deve acreditar que está com eles quando estiverem distantes."
Viken suspirou enquanto olhava para o céu noturno. O homem era um estranho e seu conselho não foi muito útil. Ainda assim, o vento o fez se sentir melhor. Viken então olhou para o seu lado. O homem de aparência frágil piscava lentamente.
“Obrigado por me ouvir, senhor", Viken disse calmamente. "Parece que um peso enorme foi tirado do meu peito."
O homem apenas deu um leve sorriso em resposta. Viken segurou o Devouring Gourd em seu ombro novamente.
"Eu deveria ir para a cama agora. Boa noite!", Viken exclamou antes de ir para a cabana.
O homem observou Viken ir embora. Ele se virou assim que Viken estava completamente fora de vista. Uma brisa suave soprou novamente.
"Você pode sair agora", o homem murmurou com os olhos fechados.
Assim que ele disse isso, Soule levantou-se lentamente com seu Wolpertinger em seus braços. O homem devia saber que ele estava escondido atrás de uma grande árvore.
"C-como você sabia?", Soule gaguejou. "Fiz o melhor que pude para me esconder."
"Claro, eu sei. Esse é o meu lugar. E também...", o homem olhou para o Wolpertinger que Soule estava segurando. "... vi suas orelhas saindo de trás da árvore."
Soule sorriu sem jeito. O Wolpertinger se mexeu no abraço de Soule e soltou um grunhido adorável.
Soule apertou o Wolpertinger antes de soltá-lo. Ele pulou em direção a grama animadamente assim que ele o fez. Soule criou uma pequena chama de fogo para o Wolpertinger caso ele se perdesse na noite escura e sem estrelas.
O homem parecia impressionado com as habilidades de Soule.
"Um elfo que lida com fogo. Isso é incrível", comentou.
"Sério?", Soule respondeu. "Eu tenho usado desde a minha manifestação."
Soule não precisou perguntar como o homem sabia que ele era um elfo. Esse homem parecia saber tudo.
"A propósito, obrigado por ouvir Viken", disse Soule.
"Sem problemas", respondeu o homem. "Eu queria ajudá-lo. É uma pena que minha luz tenha sido bloqueada pela causalidade. Então, novamente, nós provavelmente não deveríamos nos encontrar. Talvez seja contra o princípio do mundo."
"O princípio do mundo?", Soule repetiu.
"Alguém sofrerá graves consequências por deixar que nos encontremos", esclareceu o homem. "Quem quer que seja, deve estar com muita dor."
Ele continuou, "Deve ser um grande mago. Eu não sabia que encontraria outra versão de mim mesmo de outro mundo."
Soule sorriu sem jeito. Ele pensou que Viken e o homem se pareciam desde o início.
"Você percebeu quando nos conhecemos, não é?", o homem perguntou como se tivesse lido a mente de Soule.
"Hmm... Sim", Soule respondeu.
"Mas você provavelmente não contou para seus amigos." Soule assentiu.
"Sim. Há algumas coisas que eu senti que não poderia dizer aos outros. Não sei se eu estava com medo ou se eu achava que havia uma linha que eu não deveria cruzar."
"Provavelmente não é o momento certo ainda", o homem o tranquilizou. "Se eu fosse lhe dar um conselho... embora eu não possa lhe contar em detalhes agora, uma coisa é certa: o dia em que você deverá fazer uma escolha chegará."
O homem respirou fundo. "Se aquela criança sou eu, o destino virá, não importa o que aconteça."

