30. Mais um mundo
"E aí, I-ONS! Nós somos o Star One, sua única estrela!"
"Weeya! Weeya!"
"Baa! Baa!"
O Tawaki e o Devouring Gourd gritaram em uníssono. Soule estava falando para a câmera do vlog quando o Tawaki voou e sentou-se nela.
Soule ajustou a lente trêmula e continuou. "Estamos em um café botânico, numa estufa", explicou. "É um lugar legal com muitas plantas exóticas."
Já fazia um tempo desde que o grupo encontrou um belo local de filmagem para sua primeira aparição na TV. Todos estavam de bom humor.
"Nós realmente sentimos saudades de vocês, I-ONs. Por que não venham conosco? Vamos compartilhar com vocês o que temos feito. Eugene, você gostaria de ir primeiro?"
Soule entregou a câmera para Eugene, que pegou com o Tawaki sentado em cima sem dificuldade.
"Estamos trabalhando duro nos preparando para a turnê e gravando nosso próximo álbum", disse Eugene, "então fiquem ligados!"
Taho acrescentou: "Houve um atraso, então queremos voltar com um trabalho aínda mais perfeito. Aguardem pela nossa performance!"
Nesse momento, o Ratatoskr de Taho subiu no braço de Eugene e se juntou ao Tawaki em cima da câmera. A câmera abaixou e encheu a tela inteira com seu rosto.
"Ei! Venha aqui!", Taho tentou tirar ele do caminho. No entanto, o esquilo adorável estava ocupado cheirando a câmera.
Quando Soule lançou um olhar preocupado para a equipe de filmagem, eles fizeram um gesto de 'Ok' com as mãos para sinalizar que estava tudo bem.
Depois de olhar para a câmera por um momento, o Ratatoskr deu um pulo. Sua cauda peluda passou na frente da lente.
Soule riu e disse: "Esse amigo que vocês veem é o familiar de Taho, que é uma criatura mágica invocada com a qual você tem um vínculo especial."
Taho gesticulou para que ele voltasse. No entanto, o Ratatoskr recusou-se a ouvir. Outra câmera capturou as ações de Taho.
Viken não queria ficar para trás, então ele segurou o Devouring Gourd e mostrou para a câmera.
"E esse é meu familiar!", exclamou. "Não é fofo, como ele se parece com um urso em forma de abóbora?"
"Baa!", o Devouring Gourd gritou enquanto mastigava o cabelo de Viken.
A equipe tapou a boca com as mãos, tentando segurar a risada quando Viken fez uma careta triste.
Nesse momento, uma onda de déjà vu varreu o Star One enquanto o teto tremia levemente.
Os familiares pararam de brincar também. Eles olharam para cima com as orelhas em pé.
O instinto de Soule entrou em ação antes que ele pudesse descobrir o que estava acontecendo.
"Todos, se abaixem!" ele gritou.
Quase imediatamente, granizo preto caiu do teto. Soule não podia acreditar no que estava vendo.
Crack! Crack!
O teto de vidro começou a ceder. Nesse ritmo, o teto quebraria rapidamente e os cacos cairiam por toda parte.
Eles precisavam de algo para proteger as pessoas dos fragmentos se isso realmente acontecesse. No entanto, Soule não poderia fazer isso com suas chamas.
Soule sentiu um perfume floral em meio aos gritos e movimentos. Viken se aproximou e ficou ao lado dele.
"Viken, aqui...!", Soule gritou. Mesmo que ele não tenha terminado sua frase, Viken entendeu exatamente o que ele quis dizer.
Viken cerrou o maxilar quando estava prestes a girar o cajado para a magia.
Droga, eu o deixei no carro!
Ele decidiu atirar luz com as mãos em vez disso. No entanto, quando estava prestes a fazer isso, Viken encontrou o cajado flutuando alguns centímetros acima dele.
Ele mal teve tempo de reagir. Viken imediatamente girou o cajado para deixar as árvores na estufa mais altas. As plantas cresceram bastante e ficaram muito mais altas em um instante, produzindo longos galhos e folhas exuberantes.
Mesmo que as folhas grossas bloqueassem parte do vidro quebrado, não era o suficiente para proteger tudo. Viken mordeu o lábio.
Sem saber que seu lábio estava sangrando, Viken respirou fundo e empunhou o cajado. Ele teve que fazer as árvores crescerem ainda mais.
No entanto, os ramos pararam de crescer.
"Ugh", Viken gemeu quando uma dor latejante atravessou seu braço. Talvez ele estivesse se esforçando demais.
Gotas de suor frio escorriam por suas costas.
Nesse momento, cacos de vidro começaram a cair no chão e roçar os rostos das pessoas. Enquanto as pessoas se escondiam desesperadamente sob as grandes árvores, não era suficiente para acomodar todos.
Viken agarrou o cajado e tentou se concentrar novamente quando viu isso.
"Por favor", ele implorou, "me dê forças para protegê-los..."
Nesse momento, o cajado tremeu levemente. Uma luz fraca saiu do cajado e iluminou brevemente a área ao redor. Viken ajustou sua postura e se concentrou enquanto segurava o cajado.
Ele desenhou um grande círculo com o cajado antes de disparar uma luz verde em direção ao teto. Como resultado, as árvores começaram a crescer, seus galhos se enroscando e girando. Eventualmente, os galhos marrons e as folhas verdes cobriram o teto como um telhado.
O local ficou em silêncio como se nada tivesse acontecido. Cacos de vidro pararam de cair.
Viken bufou quando caiu no chão. A dor no ombro de Viken retornou quando ele relaxou.
Os membros se reuniram em torno de Viken e o ajudaram a se levantar.
Eugene tinha uma cicatriz na bochecha por causa dos cacos.
"Você viu isso?", Eugene ofegou. "Parecia granizo negro. Ou eram pedras?"
Enquanto todos assentiam, Soule notou uma pequena figura passando por eles atrás dos densos troncos de árvores.
Soule deixou Viken e Eugene para segui-la. Ao se aproximar, a figura fugiu de sua vista como se o tivesse notado.
"O que há de errado, Soule?", Taho perguntou a ele. "Você descobriu quem fez isso?"
Soule inclinou a cabeça enquanto respondia. "Talvez. Mas era minúsculo. Podia ser um familiar. Se fosse uma pessoa, era do tamanho de uma criança. Eu diria que era tão alto quanto Judi?"
"Tão alto quanto Judi? Talvez seja um familiar?"
"Isso é possível", Soule deu de ombros enquanto olhava para o teto coberto de galhos. "Uau... estamos sendo atacados de novo?"
As coisas estavam calmas ultimamente. O grupo procurou a Seita do Dragão para treinamento precisamente para se preparar para tais incidentes. Embora eles tenham conseguido evitar o pior graças à magia de Viken, eles prefeririam não ter que enfrentar os ataques num primeiro momento.
"Eu não acho que sejam os agressores da última vez", Taho disse em um tom sério enquanto balançava a cabeça. "Os agressores sempre tentaram nos sequestrar depois de causar confusão. Dessa vez, porém, eles desapareceram depois de dar algum tipo de aviso. A natureza do ataque foi diferente."
"Sinto que eles estão nos testando", comentou Eugene. "É quase como se eles estivessem tentando ver quão bem nós respondemos a desastres inesperados."
Soule virou-se para onde a figura tinha estado pela última vez. Ele não tinha certeza de quem exatamente estava por trás disso. No entanto, por algum motivo, o coração de Soule apertou. Ele se sentiu ainda mais assustado do que quando os agressores o atacaram.
Taho agarrou seus ombros como se entendesse como se sentia.
"Soule", disse ele. "parece que todos foram evacuados com segurança. Vamos sair também."
"Ah, ok", Soule respondeu enquanto olhava para o teto. "A propósito, nós alugamos essa estufa para filmar, certo?"
"Sim", confirmou Avys. "Seria uma dor de cabeça consertar o prédio."
Todos ficaram em silêncio e abaixaram suas cabeças.
"Haa...", Avys suspirou. "A propósito, Viken, sua magia melhorou muito. Isso foi impressionante." Ele ficou impressionado com o teto coberto de galhos.
"Né?", Viken respondeu, ainda se sentindo cansado. "Ah, certo. Deixei o cajado no carro, mas de alguma forma ele apareceu bem na minha frente. Eu consegui usar melhor a magia por causa dele."
"É porque é um item mágico?", Taho perguntou, sentindo-se impressionado. "Parece ter vontade própria."
"De qualquer forma, estou muito grato", disse Viken ao cajado. "Estou feliz que você finalmente começou a me ouvir e que você ajudou! Você é o melhor! Obrigado por ter vindo ajudar quando eu precisei."
O cajado tremeu em resposta. Exausto, Viken segurou o cajado em seus braços e repousou sua cabeça nele.
•••
Apesar da misteriosa ocorrência, o Star One rapidamente voltou às suas vidas normais. O grupo estava treinando magia no Pico do Dragão depois de terminar sua sessão de filmagem programada. Cada membro voltou a fazer sua parte agora que estavam acostumados a lidarem com eventos inesperados.
No entanto, seus olhos brilhavam com maior determinação do que antes.
Os meninos sabiam que deveriam ser ainda mais fortes para si e para seus fãs.
Soule estava praticando tiro com arco de fogo no meio do coliseu. Ele massageou seus dedos doloridos enquanto fazia isso. Apesar de Soule ter melhorado em mirar em objetos em movimento, ainda havia espaço para melhorias quando se tratava de força e velocidade.
Soule enxugou o suor da palma da mão e tentou puxar o arco novamente. No entanto, seus dedos doloridos se recusaram a ceder. Soule suspirou enquanto olhava ao redor. Soule não foi o único cujo desempenho se estabilizou.
Ele assistiu Eugene destruir perfeitamente os bonecos.
Dezenas de manequins ficaram com suas cabeças cortadas, mas rapidamente cresceram de volta como em um conto de fantasia. Assim que Eugene voltou à posição, ele olhou para as palmas das mãos. A gaze enrolada em suas mãos agora estava solta e manchada de sangue.
Eugene ajustou a gaze antes de decidir desenrola-la completamente. Assim como Soule, os dedos de Eugene estavam cheios de calos.
Todos estavam tão ansiosos que estavam canalizando toda a sua energia na prática. Eles estavam se esforçando demais.
Taho parecia estar no pior estado. Ele estava tão frustrado com suas habilidades mágicas que praticava magia de fantasia o dia todo e lia livros de feitiços a noite toda. Ele estudou muito na esperança de aprender magia que pudesse ajudar diretamente o grupo durante as batalhas.
Soule esfregou os dedos cansados que ardiam de dor. Ele conseguia se identificar com Taho; ele próprio se sentiu totalmente impotente quando o teto de vidro caiu.
Viken, que agora podia manejar melhor o cajado, ficou mais forte. Enquanto ele mal conseguia fazer um frasco de pomada, agora ele conseguia fazer cinco ou seis de uma só vez.
Eugene aplicou a pomada que Viken lhe entregou e aplicou a gaze novamente. No entanto, suas mãos estavam tão cansadas que ele não conseguia manter a gaze no lugar.
Soule foi até Eugene e o ajudou a apertar a gaze.
"Todo mundo está trabalhando tão duro", comentou. "Espero que ninguém se machuque."
"Sim", Eugene concordou. "Estou feliz que a pomada de Viken funcione. E espero que Taho não esteja se esforçando demais."
Soule assentiu enquanto olhava para Taho. Uma chama se acendeu ao redor de Taho antes de se transformar em gelo e desaparecer. Sua magia de fantasia sempre foi muito realista.
"Bem, eu não acho que ele gostaria de se distrair", Soule cantarolou enquanto se afastava de Taho. Ele então olhou para seu relógio inteligente. "Está ficando tarde. Por que não voltamos para nossos quartos?"
Já era tarde da noite. Soule sacudiu os dedos para disparar um fogo ardente. O fogo formou uma mensagem por alguns segundos, dizendo: Vamos voltar!
Um momento depois, Viken correu para ele com o cajado na mão.
"Acho que conheci melhor o cajado hoje!", exclamou Viken.
"Uau, isso é ótimo", comentou Soule. "Como estão seus ombros, a propósito?"
Viken deu de ombros. Talvez devido ao uso excessivo de magia, ele teve espinhos em seu ombro após o incidente. Como resultado, Viken adoeceu e teve que ficar na cama o dia todo.
"Eu me sinto melhor agora, mas a dor está piorando", confessou Viken. "Talvez tenha a ver com o meu humor? Isso me lembrou de quando eu tive uma gripe. Realmente doeu dessa vez."
Só então, Avys voltou com seu Tawaki e saltou das costas do familiar.
Avys pulou de uma altura que teria sido muito perigosa para humanos comuns.
"Uau, isso é incrível!", Viken engasgou.
Avys e Viken aliviaram a atmosfera tensa. O Tawaki imediatamente encolheu e subiu na cabeça de Avys.
Quando Soule e o Tawaki fizeram contato visual, o familiar esticou o pescoço como se pedisse carinho. Soule riu enquanto ele acariciava sua cabeça.
"Weee!", o Wolpertinger, que estava sempre desejando a atenção de seu dono, ronronou enquanto esfregava seus chifres contra o tornozelo de Soule.
Soule pegou o Wolpertinger.
"Esse ama o Soule", comentou Avys.
"Ele adora ser carregado", respondeu Soule. "A propósito, no que você trabalhou hoje, Avys?"
"Eu me concentrei na velocidade", respondeu Avys. "Eu estava curioso para saber o quão rápido eu poderia voar com o Tawaki."
Isso explicava seu cabelo bagunçado e desgrenhado.
"Voamos uma distância bastante longa", elaborou Avys. "Ele sabia mudar de direção quando via suas chamas, Soule."
"Como é o Pico do Dragão visto de cima?", Soule perguntou enquanto acariciava o queixo do Tawaki.
"É feito de infinitas planícies gramadas e florestas. Eu só via florestas, não importa o quão longe eu fosse. E me sinto mal dizendo isso, mas...", Avys sorriu. "Por mais que eu ame cidades, acho que esse lugar é melhor para o meu Tawaki. Você tem melhor visibilidade graças ao ar limpo."
Soule assentiu.
"Aparentemente, eles usavam petróleo como combustível antes de descobrirem a Água Negra", afirmou Soule. "Ouvi dizer que a poluição do ar nas cidades era terrível naquela época."
Eugene assentiu. "Sim. Mas a Água Negra também tem efeitos colaterais. Lembra como passamos por momentos difíceis por causa das ondas da Água Negra?"
"Sim", Soule respondeu. "De qualquer forma, vamos encontrar Taho e voltar."
Soule olhou ao redor por um momento antes de perceber que Taho estava andando devagar em direção ao grupo.
Ele parecia exausto.
"Vamos voltar e descansar um pouco", disse Soule enquanto dava um tapinha no ombro de Taho. "Judi deve estar esperando por nós com água quente."
"Mas eu não quero nenhuma sopa de ervas", Taho lamentou.
"Eu pensei que era só eu!", Soule exclamou surpreso.
Os outros membros, que ouviram a conversa, pararam e olharam um para o outro antes de cair na gargalhada. Todos devem ter sentido o mesmo sobre a sopa.
As risadas aliviaram a tensão no ar.
"Eu vou jogar o dado", Soule disse enquanto ajustava sua camisa.
"Tudo bem!"
Depois de confirmar que todos os membros estavam presentes, Soule jogou o dado.
•••
O dado voltou e caiu em sua mão. A luz rodeou seu corpo.
Todos fecharam os olhos, imaginando seus novos e confortáveis quartos que tinham roupas de cama aconchegantes e cheiravam a ervas fortes.
A luz sumiu. Assim que o Star One estava prestes a abrir seus olhos, eles notaram um cheiro desconhecido fazendo cócegas em seus narizes.
O cheiro forte os lembrou de livros antigos. Sentindo algo incomum, O Star One abriu os olhos e olhou ao redor.
Era um espaço grande e vasto que estava cheio de milhares de livros. O Star One olhou para cima para descobrir onde as estantes terminavam, apenas para perceber que as paredes pareciam intermináveis. Parecia que eles estavam presos em um labirinto gigante.
"Hum...", Taho, que parecia muito cansado, vacilou.
Soule segurou Taho quando ele disse: "Hmm, podemos ter desembarcado em outro mundo como da última vez."
"Eu também acho", disse Eugene. "Isso é... uma biblioteca?"
Todos assentiram em resposta. No entanto, esta não era sua biblioteca típica. As estantes gigantes os cercavam como prédios. Era impossível dizer onde era a saída.
Soule colocou uma mão na testa e sentiu o dado no bolso com a outra.
Onde diabos você nos trouxe dessa vez?!
O dado quente permaneceu em silêncio.

