36. O Fim do Sábio
O círculo mágico que criou um caminho com um redemoinho negro logo diminuiu e desapareceu.
Deixado sozinho, o Sábio olhou para o tapete estampado no chão. Um canto de seu coração parecia vazio, embora tudo o que ele tivesse feito fosse mandar embora os garotos que encontrara.
Talvez fosse por ter ele se encontrado em um mundo diferente. Ele deu um sorriso amargo. Na verdade, foi uma experiência única ver uma existência igual, porém, diferente.
Suas aparências e personalidades, embora não idênticas, tinham muito em comum. O menino choramingava como se achasse muitas coisas desafiadoras, mas no fundo era cheio de sabedoria. O Sábio pensou que, por mais pequeno e frágil que parecesse, o menino faria a mesma escolha no momento final.
Ele balançou a cabeça para afastar os pensamentos.
Tum. Tum.
Os livros continuaram seu nascimento e morte. Os breves momentos de pouco mais de um segundo continham a vasta história e o grito de quem enfrentava o fim. Muitas pessoas devem estar lutando desesperadamente à beira do apocalipse enquanto o livro estava prestes a cair.
Assim como eu.
O Sábio fechou os olhos e os abriu. Ele não viu nada. Embora ele mesmo não pudesse ver, seus olhos provavelmente perderam a cor há muito tempo.
Ele seria incapaz de apreciar o verde exuberante sob a luz do sol ou os rostos de quem amava pelo resto de sua vida. Ele havia se preparado para isso. Não era nada comparado a salvar o mundo.
A pena flutuou quando o Sábio levantou a mão.
Seu livro, que foi difícil de conseguir, ainda estava em seus braços. Ele abriu o livro lentamente, exalando bruscamente quando a ansiedade o atingiu.
Sua garganta estava sob pressão crescente, como se estivesse se fechando.
Lutando para respirar, o Sábio enfiou a mão no bolso como se procurasse por algo.
Ele sentiu uma pequena bolsa em sua mão. Ele abriu a bolsa com as mãos trêmulas e tirou um pequeno frasco de vidro contendo remédio líquido. Abriu a garrafa e derramou o xarope na boca.
Uma tosse violenta irrompeu de sua boca como se quisesse resistir, mas ele cobriu a boca para forçar o remédio garganta abaixo.
O remédio fez efeito depois de alguns minutos enquanto estava tossindo no chão. A pressão em sua traqueia diminuiu e a respiração ficou mais leve. Curiosamente, o remédio não apenas o fez se sentir melhor, mas aliviou a magnitude da própria consequência.
Eu estou correndo contra o tempo.
O sábio se levantou do chão assim que se sentiu melhor e abriu a última página do livro imediatamente.
Ele tirou uma pequena faca do bolso e fez um grande corte na palma da mão esquerda. Gotas de sangue respingaram na página, manchando os textos com o líquido vermelho escuro.
O Sábio cerrou o punho para espremer mais sangue. Seu pulso tremeu. Embora o processo não fosse indolor, era mais suportável do que a tosse sufocante.
Sua pena, pairando no ar, pousou em sua mão direita enquanto grande parte da página estava encharcada de sangue.
Ele gentilmente passou os dedos pela pena, sentindo sua textura macia. A imagem do amigo, de quem estava separado para sempre, se dissipou em sua memória. O amigo foi altruísta o suficiente para colocar os outros em primeiro lugar, mesmo quando o mundo estava acabando.
Recordando o olhar gentil de seu amigo, o Sábio sorriu brilhantemente.
Eu vou parar isso. Eu vou.
Mais uma vez, ele prometeu a si mesmo, então lentamente levou a ponta da pena até o último parágrafo da página.
Uma dor excruciante atravessou seu abdômen naquele momento, como se alguém estivesse realinhando cada um de seus órgãos internos.
Grunhindo de dor, ele escreveu um caractere após o outro. A sensação piorava cada vez que ele escrevia um caractere. Todo o seu corpo sofria de uma dor ardente, pior do que as que sentia nos olhos. Sua visão ficou escura quando o Olho da Mente, que ele mal mantinha, cedeu.
"Ugh...!", ele ofegou. Ele levou as mãos trêmulas aos olhos e apertou-os freneticamente, mas a dor não passou. Ele pensou em como preferia arrancar seus olhos para eliminar a agonia, se pudesse.
No entanto, ele não parou de escrever as letras, pressionando um caractere após o outro como se fosse esculpir um selo.
Alguns momentos depois, o Sábio largou a pena quando a página ficou com uma pequena margem, por causa de um espasmo no dedo indicador direito.
A dor esmagadora desapareceu instantaneamente como resultado, dando-lhe um doce momento de descanso.
Ele desejou poder largar tudo e adormecer. No entanto, ele entendeu a razão por trás de tal alívio. Foi uma advertência contra a mudança arbitrária do final predestinado, bem como uma tentativa de aplacar aqueles que resistem ao apocalipse.
Mas, ele nem teria começado se desistisse agora. O Sábio pegou a faca novamente e esfaqueou as costas de sua mão direita. Sua mão paralisada começou a se mexer.
Ele levantou a mão direita e voltou a escrever. A dor surgiu imediatamente.
Alguns minutos depois, o Sábio, com as mãos trêmulas, terminou a última frase de sua visão para o mundo.
Uma luz intensa brilhou do livro e o cercou como se fosse consumi-lo.
Nesse momento, seus olhos cegos viram um céu azul e um oceano ainda mais azul sob ele.
A súbita infiltração de luz após um longo período de cegueira o fez franzir a testa e fechar os olhos.
Ele abriu cautelosamente os olhos e observou ao redor. Ele se lembrou daquele lugar de uma memória distante. As ondas quebravam na pequena e redonda ilha. Tudo o que ele podia ver era o vasto horizonte. O vento soprou e o reflexo branco da luz do sol se dispersou na água azul.
Seus braços ficaram dormentes de repente. Quando o Sábio olhou para cima, um galho grosso envolveu seus braços, pendurando-o no ar. Uma dor extrema atravessou seus braços assim que percebeu o que aconteceu.
O Sábio olhou em volta enquanto sentia a luz do sol pela primeira vez em muito tempo.
A água tranquila começou a se agitar e bater violentamente como se quisesse engolir a ilha. As ondas invadiram a ilha e submergiram a maior parte da terra sob a água.
Só depois de ver a vista, o Sábio abriu um leve sorriso de alívio.
Em frente a ele havia uma árvore alta cujo topo estava além da vista e tinha um homem pendurado nela. A árvore gigante se encolheu como se estivesse com medo das ondas que a ameaçavam. Ela enrolou seus galhos para dentro. Os galhos sobre o homem gradualmente se afrouxaram como resultado.
O Sábio não hesitou em soltar suas mãos. Seu corpo apenas sentiu brevemente o impacto da queda.
Tum.
Ele estava sorrindo no final do apocalipse. A esperança, que ele encarou depois de realizar tudo, foi extremamente agradável.
•••
Chirp! Chirp! Chirp!
Taho olhou para o céu. Nem as estantes infinitamente altas, nem o enervante dragão negro estavam lá. Ele estava nos familiares campos de treinamento do Pico do Dragão. Ele ainda sentia a ardência em seus olhos.
"Hã? Você chorou, Taho?", Soule perguntou ao notar as marcas de lágrimas em suas bochechas.
"Não", Taho respondeu. "Tentei algo com minhas habilidades que acabou doendo."
"Ah, ok. Não se esforce muito. A magia se manifestou recentemente", Soule disse preocupado.
Taho assentiu enquanto enxugava as lágrimas com a manga.
"Eu aprendi muito graças ao Sábio. Ele parecia muito doente. Espero que ele esteja bem...", Viken murmurou em favor de Taho. Ele havia prestado atenção naquele homem talvez porque o homem no campo de neve o preocupou.
"O que você tentou ver?", Eugene entrou na conversa.
"Humm... antes de sair da biblioteca, um livro em particular chamou minha atenção. Então, eu dei uma olhada nele com o meu Olho da Mente."
"Você viu algo diferente com o seu Olho da Mente?"
"Eu vi", respondeu Taho. "Um dragão negro bateu as asas no livro e abriu a boca como se fosse devorá-lo. Eu me senti nervoso vendo isso por algum motivo."
"Um dragão...", Soule disse com um aceno de cabeça. "Continuamos ouvindo sobre dragões ultimamente, incluindo a Seita do Dragão."
"Oh!", Avys exclamou como se lembrasse de algo. "Eles disseram que ajudaríamos um dragão a salvar o mundo. Eles poderiam estar relacionados?"
"Se o dragão deve salvar o mundo, ele não é uma criatura boa?", Viken perguntou com os olhos bem abertos.
"Não tenho certeza", Taho soltou um longo suspiro. "Pareceu um pouco... sinistro para ser apenas uma coisa boa."
Ele estremeceu ao lembrar do dragão abrindo sua enorme boca. Taho segurou seus braços e balançou a cabeça enquanto sentia calafrios.
"Não sei quais são as intenções do dragão, mas foi assim que me senti", disse ele.
"Os dragões são geralmente considerados criaturas sagradas, mas você está certo, Taho", respondeu Eugene. "Também não devemos ignorar seus instintos."
Os outros membros se entreolharam e concordaram com a cabeça.
Soule continuou de forma séria. "Acho que podemos estar errados, já que nossa magia ainda é primária e não estamos familiarizados com esse mundo. Mas também não devemos ignorar completamente nossos instintos, então vamos manter isso no fundo de nossas mentes."
Squeal!
O Wolpertinger subiu na perna de Soule ao notar o olhar sério no rosto de seu dono.
Soule pegou o Wolpertinger pendurado em sua perna.
Eugene manteve o olhar fixado em seus olhos quando disse: "Falando em dragões... como todos vocês devem ter percebido, eu acho a que Seita do Dragão é suspeita também."
Soule fez uma careta. "Sim. Um exemplo são os hematomas na Judi. Se eles têm a audácia de bater em uma criança..."
Os meninos não podiam deixar de se sentir inquietos, embora estivessem recebendo ajuda da Seita do Dragão para treinamento de magia. Enquanto eles apreciavam profundamente a Seita por resgatá-los dos agressores, sua atitude arrogante e dogmática mostrada logo após foi desanimadora.
"Agora que estamos de volta, vamos ver a Judi", disse Soule enquanto olhava ao redor. "Onde ela está...."
Ele ouviu vozes desconhecidas naquele momento.
"O sangue de uma traidora está contaminado!"
"Como você se atreve a chegar perto do riacho?"
Soule imediatamente se virou para onde as vozes vinham.
"Soule, por que...", Viken perguntou curiosamente, mas Soule colocou o dedo indicador sobre os lábios dele.
"Shhh!", os membros ficaram em silêncio instantaneamente.
Soule concentrou-se em ouvir. Ele ouviu as vozes de crianças pequenas ocasionalmente tendo conversas impróprias para sua idade. Parecia que elas estavam intimidando alguém.
Se direcionando para as vozes, Soule sussurrou para os membros, "Sigam-me por aqui."
Os membros engoliram em seco antes de ficarem na ponta dos pés atrás de Soule. Quanto mais se aproximavam, mais altas as vozes ficavam.
"Nem sequer apareça diante de nós! Eu me sinto sujo só de olhar para você!"
"Que traidora chata!"
A gritaria foi seguida pelo som deles chutando e pisando em alguma coisa.
O Star One parou de se esconder e pulou assim que perceberam o que estava acontecendo.
"Parem!"
Assim que se aproximaram, descobriram que a criança que estava sendo vítima de bullying era Judi.
Sua túnica branca estava manchada de sujeira e poeira, e seu cabelo estava desgrenhado por causa dos chutes das outras crianças. Ela estava tremendo no chão.

