62. O Livro de Feitiços Perdido
Viken caminhou pelo longo corredor fora de seu quarto. Do portão do castelo ele deu três passos para a esquerda e quatro passos para a direita em direção ao castelo. O quarto de Chang e Judi - Quarto 71 - estava lá.
Viken cuidadosamente abriu a porta. Uma escuridão como breu o saudou. Ele rapidamente entrou e fechou a porta atrás de si. "Ei, sou eu", ele sussurrou.
A sala se iluminou lentamente com a magia iluminadora de Judi. Ela saiu correndo e segurou a mão de Viken. "Olá, Viken!"
"Espero que ninguém tenha encontrado vocês hoje. Pegue isso primeiro." Viken entregou a ela a mochila cheia de comida. Embora ele tentasse trazer o máximo que pudesse, ele sempre se preocupava com o fato de não ser o suficiente.
Judi sorriu ao ver o que Viken havia trazido. "Obrigada."
"Eu queria trazer mais. Eu me preocupo que vocês possam estar morrendo de fome."
"Agradeço. Mas Chang tem juntado coisas de diferentes lugares. Não é muito, mas o suficiente para fazer pelo menos uma refeição por dia."
Viken franziu a testa. Ele se sentia mal por essas crianças magras sobreviverem com uma refeição por dia. "Você devia estar com fome."
Judi sorriu. "Estou acostumada. Estou bem."
A menina que sempre fazia sopa de legumes para o Star One não se alimentava o suficiente. Viken se sentiu ainda pior.
Ao contrário de suas preocupações, Judi sorriu brilhantemente e disse ao irmão: "O que você diz, Chang?"
Chang se contorceu timidamente antes de dizer: "Obrigado." Ele ainda estava com a guarda alta, mas se alegrou por Viken. Escondê-lo e visitá-lo algumas vezes valeu a pena.
Chang deu uma grande mordida em um dos biscoitos de Viken. Ele parecia faminto. Seus olhos brilharam assim que ele deu uma mordida no delicioso biscoito. Viken o observou aliviado.
Judi deu um grande abraço no irmão. "Fico feliz que ele tenha apetite. Ele não comeu nada ontem."
"Desculpe", disse Viken. "Eu queria ter trago um pouco ontem, mas..."
"Oh, nós comemos comida ontem. É só que...", Chang largou o pacote de biscoitos.
Viken notou que seus braços tremiam. "Aconteceu alguma coisa?"
Judi manteve a boca fechada, apenas observando a reação de Chang. Viken deu um sorriso caloroso e parou para pegar o pacote. "Tudo bem se você não se sentir confortável em me contar."
Chang pegou o pacote de biscoitos e encarou Viken. Ele então apertou a manga da roupa. "Eu os encontrei."
Não estava claro o que ele havia encontrado. Viken não o apressou, mas esperou em silêncio. Chang abaixou a cabeça e acrescentou: "Encontrei os magos desaparecidos do Clã Matador de Dragões."
"Eles desapareceram? Você está falando sobre o Clã de magos que nos atacaram?"
Chang assentiu silenciosamente. Viken não tinha certeza de como reagir à notícia. "Onde você achou eles?"
"Aqui, no Pico do Dragão. Eu estava vagando em busca de comida, e...", Chang parou e estremeceu como se estivesse com medo.
Viken deu um abraço apertado no menino. "Está tudo bem, você pode me dizer. O que aconteceu?"
"Sangue...", Chang cobriu a boca. "A Seita do Dragão estava reforçando seus artefatos com o sangue dos magos do Clã."
Viken prendeu a respiração. Chang ainda estava tremendo. Viken relembrou os artefatos da Seita do Dragão, que tinham algo em comum: todos pareciam velhos. Os itens pareciam antigos artefatos históricos que mal mantinham sua forma. A Seita do Dragão estava oferecendo o sangue dos magos do Clã para reforçá-los.
Era cruel além da imaginação, mas a Seita do Dragão era capaz de fazer tais coisas, pensou Viken.
Devo contar aos membros sobre isso?
O assunto era sério demais para guardar para si mesmo. No entanto, dizer a eles significava que ele precisaria confessar tudo, inclusive o esconderijo de Judi e Chang. Ele tinha cada vez mais segredos, e ele estava chegando ao limite.
Acho que terei que contar a eles em algum momento.
Pensando bem, agora pode ser a melhor hora para contar a eles, porque todos estavam ficando cada vez mais desconfiados da Seita do Dragão desde que decifraram o livro de feitiços.
Viken decidiu falar com seus companheiros de banda quando voltasse. Ele deu um tapinha na cabeça de Chang, que ainda tremia. "Obrigado por me contar. Deve ter sido assustador."
"Sem problemas."
Viken verificou seu relógio inteligente. Era hora de ir. "Fiquem escondidos e não deixem que eles encontrem vocês."
"Ok", responderam as crianças.
Ele rapidamente abriu e fechou a porta e voltou em segurança para o apartamento.
Para sua surpresa, o apartamento não estava tão silencioso como de costume. Os membros estavam correndo em busca de algo.
"O que está acontecendo?", Viken perguntou.
"O livro de feitiços de Taho sumiu", disse Soule enquanto olhava debaixo do tapete. "O notebook dele também sumiu."
"O quê? Você o perdeu?"
"Não, eu deixei o livro de feitiços guardado no apartamento o dia todo", disse Taho. "Tem que estar em algum lugar da casa, mas não consigo encontrar."
Também não estava debaixo do tapete. Soule estava sacudindo a poeira das mãos quando os outros membros deixaram seus quartos. "Obviamente não está no meu quarto", disse Eugene, balançando a cabeça.
"Vamos relembrar de tudo de novo, Taho", disse Soule. "Onde você foi hoje?"
Taho jogou o cabelo para trás em frustração. "Eu não fui a lugar nenhum além de treinar. E é claro que deixei o livro de feitiços aqui."
"Então alguém pegou o livro de feitiços da sua mesa", Eugene disse enquanto olhava ao redor da bagunçada sala de estar.
Soule estava prestes a dizer que ninguém faria isso quando Viken entrou na conversa. "É a Seita do Dragão?"
Soule piscou. Viken encolheu os ombros. "Quero dizer, eles são as únicas pessoas que podem entrar em nossos quartos quando quiserem."
"É verdade, mas..."
"Esse castelo pertence à Seita do Dragão. Eles poderiam facilmente invadir ou pegar coisas sem o nosso conhecimento. Eles até sabem quando nossas sessões de treinamento acontecem. Mas por que eles pegaram agora, depois de tanto tempo?"
Taho cruzou os braços. "É porque conseguimos decifrar? O livro de feitiços estava cheio de palavras e símbolos que a seita não entendia. Parece que eles não conseguiam ler nada com suas habilidades. Mas com minha interpretação e anotações, eles poderiam descobrir as coisas."
"Se eles sabem que você decifrou, significa que eles estão nos observando o tempo todo."
"Sim. Eu só não sei quanto do que eles estão nos dizendo é verdade", queixou-se Soule.
Viken olhou para seus companheiros de banda. Agora era a hora de contar. "Sei que tem muita coisa acontecendo, mas tenho algo a dizer a vocês. Deixe-me pedir desculpas primeiro. Posso ter feito alguma coisa."
"Você fez o que?", Soule perguntou, surpreso.
"Judi e seu irmão estavam sendo perseguidos pela Seita do Dragão, então eu os escondi."
"O que?", Soule o olhou de forma suspeita. "Você não disse que o pai e o irmão de Judi fugiram para se juntar ao clã?"
"Sim, embora fosse para encontrar remédios. Então, acabei escondendo um membro do Clã. Mas... não pude me afastar das crianças. Sinto muito por tomar a decisão por conta própria."
Soule suspirou. Conhecendo as circunstâncias, ele não podia reclamar. Ele teria feito o mesmo se fosse Viken.
Mas eu sou assim mesmo.
Soule olhou para os outros membros. Eugene também estava quieto.
Taho foi quem questionou Viken. "O que mais você está escondendo? Há algo mais que você não nos contou?"
"Hã?"
Taho queria pegar o livro de feitiços de volta. Ele não queria perdê-lo quando acabava de obter dicas. Ele passou muitos dias e noites decifrando o livro na esperança de aprender sobre o futuro. Nunca se sabia o quão útil o livro poderia ser no futuro; ele não poderia perdê-lo assim.
"Bem, o irmão de Judi realmente me disse", disse Viken, "que a Seita sequestra magos do Clã e usa seu sangue para reforçar seus artefatos."
"O quê?! Isso é horrível!", Avys franziu a testa. Os outros membros também congelaram em choque.
"Como ele descobriu?", Soule perguntou.
"Ele os viu enquanto procurava comida. Oh! Ele pode saber onde o livro de feitiços possa estar", os olhos de Viken brilharam.
"Vamos agora", Taho deu um passo à frente. "Devemos perguntar ao menino." Ratatoskr imediatamente pulou em seu ombro.
"Espera!", Viken fez uma pausa, segurando o ombro de Taho quando ele estava prestes a decolar. "Precisamos ter certeza de que a Seita não nos encontre. O momento é um pouco estranho agora, mas parte de mim também acha que poderíamos fazer isso se nos apressarmos."
"Eu vou com vocês", disse Soule aos dois.
Avys ficou tentado a se juntar, mas acabou se despedindo deles. Eugene não disse nada, mas acenou com a cabeça.
Viken conduziu os outros dois membros para a o Quarto 71. Soule deu passos cuidadosos, surpreso que tal caminho existisse. Viken abriu a porta como antes, deixou seus companheiros de banda entrar e fechou a porta imediatamente.
"Judi, sou eu", ele sussurrou. "Voltei com dois dos meus companheiros de banda."
No entanto, o quarto ficou escuro. "Não tenha medo, Judi. Eu contei a todos os meus colegas de banda e eles entenderam."
A sala gradualmente se iluminou. Judi não sabia como reagir ao ver os membros do Star One novamente. Soule esboçou um sorriso para tranquilizá-la. "Bom ver você de novo", ele disse a ela. "Eu estava preocupado, mas estou feliz que você esteja bem. Viken me contou sobre vocês."
Judi sorriu com as palavras gentis de Soule e correu até ele como costumava fazer. "Estou feliz que você esteja bem também. Como estão todos os outros?"
Soule deu um tapinha na cabeça da criança. Judi gesticulou para Chang, que estava parado no canto. Seu irmão, embora nervoso, se aproximou. Mas ele só ficou ao lado de Viken.
"Ouça, Chang", Viken disse enquanto acariciava sua cabeça. "Eu preciso perguntar uma coisa para você."
Chang levantou a cabeça e Viken cuidadosamente falou do assunto. "Achamos que a Seita do Dragão roubou algo muito importante de nós. Por acaso você sabe onde pode estar?"
"O que é?", Chang perguntou.
"É um livro. Muito importante."
Chang pensou por um momento antes de levantar a cabeça. "Tem um lugar onde a Seita do Dragão mantém todos os seus artefatos importantes", disse ele. "Eu não sei muito sobre isso, mas eles acreditam que qualquer coisa que você guarde lá nunca será perdida. E muito poucas pessoas sabem onde fica a sala."
"Por acaso você sabe onde é?", Viken perguntou.
Chang balançou a cabeça. "Não. Tudo o que sei é que essa sala leva você até lá."
Viken olhou ao redor do Quarto 71 - um quarto simples rodeado de espelhos. Ele só tinha visto isso como um bom esconderijo. Mas, para sua surpresa, era uma passagem para um depósito secreto.
"Me desculpem. Isso é tudo que sei", Chang se desculpou timidamente.
"Não se desculpe. Isso foi muito útil."
Taho recebeu uma dica de Chang, mas ficou nervoso porque não sabia exatamente como chegar ao depósito.
Foi quando Ratatoskr, que estava sentado calmamente em seu ombro, correu e bateu nos espelhos. Taho estreitou os olhos e olhou para o espelho para o qual o familiar apontava. A parede e o teto da direita estavam cheios de espelhos de diferentes formas e tamanhos.
Os espelhos o fizeram pensar: É extravagante e não tem espaço vazio.
Mas a Seita do Dragão são pessoas práticas. O grupo tendia a manter apenas o que precisava sem adicionar muita coisa. Eles nunca colocariam nada que não servisse a um propósito.
Deve haver uma razão para eles colocarem os espelhos aqui.
Chang havia dito que o quarto levava ao depósito do tesouro. Taho não pensou mais. Ele imediatamente abriu o Olho da Mente.
Seus olhos ficaram quentes. A névoa se revelou, mas não nos espelhos. Taho verificou cada um dos numerosos espelhos com seu Olho da Mente. Ao ficar diante dos espelhos que cobriam a parede, viu seu reflexo em meio à curva. Nenhum espelho tinha névoa mágica. Ainda assim, Taho observou cada espelho minuciosamente.
Um padrão único apareceu em um espelho de canto inferior naquele momento. Taho deu uma olhada no espelho, que mostrou um padrão estranho na superfície.
Acho que sei o que é isso.
Ele reconheceu o padrão, que sempre aparecia no céu quando o Clã Matador de Dragões aparecia no ar.
